Em 15 de junho de 2025, dezenas de milhares de pessoas se mobilizaram em 12 cidades do sul da Europa – como Barcelona, Palma de Maiorca, San Sebastián, Génova, Lisboa e Veneza – para protestos inéditos contra a “touristificação”, um fenômeno que privilegia o turismo em detrimento das comunidades locais e agrava problemas socioeconômicos e ambientais (theguardian.com).
O que está motivando os protestos?
- Custo da habitação: os aluguéis para turismo, especialmente em plataformas como Airbnb, estão inflacionando os preços, expulsando moradores.
- Sobrecarregamento urbano: ruas e infraestruturas ficam saturadas, tornando a vida cotidiana insustentável para muitos residentes.
- Empregos precários: o setor turístico impulsiona trabalho temporário, pouco remunerado e sem garantias.
- Destruição cultural e urbanística: identidades locais se perdem sob um turismo superficial, e regiões tradicionais perdem nomes e usos originais .
Em Lisboa, por exemplo, houve até “evicção simbólica de Santo António”, ridicularizando a transformação excessiva de bairros tradicionais .
Protestos criativos — e pacíficos
Não se tratam de manifestações violentas: a estratégia incluiu desde dragagem simbólica de “navios de cruzeiro” em Génova até brincadeiras como ataques de pistola de água, para chamar atenção sem agressão .
A organização Southern European Network Against Touristification, com forte presença desde abril em Barcelona, liderou as ações. Seu lema: não condenar o turista, mas enfrentar especuladores imobiliários e cadeias que lucram às custas dos habitantes locais (theguardian.com).
O que exigem os manifestantes
- Limites claros ao turismo de massa, especialmente cruzeiros e apartamentos de curta duração.
- Regulação mais firme de plataformas digitais, incluindo restrições operacionais e tributação que reflita externalidades sociais.
- Proteção à habitação local, com medidas que priorizem o residente em áreas saturadas.
- Participação cidadã real: ações que retornem o controle às comunidades sobre suas zonas históricas.
Não se trata apenas de um clamor local, mas de uma chamada sistêmica por reconfigurar o turismo – não restringi-lo, mas torná-lo justo, sustentável e inclusivo .
O que isso significa para o futuro das cidades europeias?
- Desafio político: autoridades estarão pressionadas a criar regras mais severas, como cotas de turistas, controle de reservas ou taxas extras em áreas tensionadas.
- Impacto no mercado de turismo: setores que dependem de volume rápido podem sofrer; destinos podem ter que se reposicionar como experiências autênticas, não zonas de consumo rápido.
- Modelo sustentável: se bem regulamentado, esse movimento pode inspirar cidades a buscar turismo que valorize cultura local e produtividade econômica sem sacrificar qualidade de vida.
Por que é relevante agora?
- É uma reação europeia coordenada, o primeiro protesto pan-regional expressando uma insatisfação crescente .
- Desafia a narrativa tradicional sobre turismo, identificando a causa real: especulação imobiliária e externalidades não remediadas.
- E instala no debate público a ideia de que cultura, identidade e espaço urbano devem ser protegidos.
Conclusão: repensar o turismo em prol das pessoas
O que vimos em 15 de junho foi mais que protesto — foi um grito por cidades vivíveis, capazes de equilibrar turistas, moradores e economia local. O medo deve ser um turismo em modo extrativo, não um turismo sustentável por design.
A lição para cidades como Lisboa ou Barcelona? Reconciliar hospitalidade e autenticidade, distribuindo benefícios entre visitantes e residentes de forma justa. Caso contrário, o próprio motor do turismo – cultura, arquitetura, cotidiano – pode se esvair sob o volume de consumidores.
Se gestores públicos, plataformas e empresas entendessem que seus clientes valorizam lugares vivos, não parques temáticos urbanos, haveria ganhos reais para todos.

